Fazia muito frio. Ela só queria voltar para a sua cama e dormir, e quando acordasse, encontrar tudo resolvido, seus problemas bem longe dali e, como num passe de mágicas, a sua vida totalmente resolvida. Ela havia passado por muitas coisas ruins nos últimos dias mas a sua rotina não poderia parar por conta de desilusões sentimentais. Ela precisava ir, só não sabia para onde.
Colocou uns 3 agasalhos e uma calça de moletom bem grossa para tentar se esquivar do frio. E foi. Ela não queria admitir, mas estava com medo. Será que daria certo? Será que tinha coragem suficiente para tentar? Será que ela realmente conseguia, como dizia seus amigos? Ela não saberia se ficasse dentro de casa com seu velho e surrado desespero.
Antes de ir, pegou o seu livro preferido, que já estava com a capa toda rasgada e bem velha de tanto abrir e fechar insistentemente e colocou na mochila. Pegou mais um casaco, pois não saberia até quanto o frio poderia a maltratar. Sabe aquele bom e antigo MP3? Ela pegou também. Ganhou de presente do seu avô, meses antes dele falecer, e nunca mais o largou, mesmo depois de lançarem inúmeros modelos modernos e tecnológicos de aparelhos de som. Lá, estavam suas músicas preferidas que também eram as preferidas do seu avô, a história de uma vida inteira contada com melodias. E foi.
Durante o caminho, encontrou diversos rostos de pessoas que não conhecia. Conheceu tristes histórias e artistas de rua que levavam a sua arte pelos cantos não só por alguns dólares e migalhas de pão. Levavam a sua arte para fazer a sua alma sobreviver. Viu muitas paisagens destruídas por homens que insistem em exercer um conceito errado de hierarquia. Gente chorando, gente sorrindo. E tudo isso a fez querer ir mais ainda.
Bom, ela ainda não conhecia o caminho, nem tampouco o lugar de destino, mas ela foi, e foi com garra. Foi com o rosto limpo e muita disposição no coração. Foi com vontade de mudar a sua vida e de fazer a diferença nesse mundão. A menina triste, que vivia sozinha, tomando uma xícara de café com biscoitos e lendo antigas e tristes histórias reais, foi. No início ela não entendia muito bem porque deveria de ir, mas percebeu que era necessário ir e fazer a sua parte. Se ela não fizesse, ninguém faria por ela. Por isso ela foi.
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